Nomofobia. O termo vem do inglês, “no-mobile-phone phobia”, e pode ser traduzido como medo de ficar sem celular, de se desconectar ou ser removido de um dispositivo tecnológico.
De acordo com especialistas em psicologia, pessoas que sofrem de nomofobia estão com o celular constantemente ligado, sempre têm um carregador para o caso de a bateria acabar e monitoram constantemente o aparelho para checar as notificações. Além disso, sintomas como nervosismo, agitação, ansiedade, taquicardia, angústia e sudorese se tornam frequentes no dia a dia.
E o vício pelo celular tem crescido não só entre adultos: muitas crianças mal acordam e já começam a mexer no aparelho, seja para jogar, assistir a vídeos ou ver redes sociais, passando várias horas por dia grudadas no dispositivo.
No Brasil, 78% das crianças e dos adolescentes entre 9 e 17 anos possuem um telefone celular, segundo o estudo TIC Kids Online Brasil 2021.
Pesquisa da University College London, que ouviu mais de 1 000 pessoas entre 18 e 30 anos, revelou que 40% não aguentavam a sensação de ficar longe de seus smartphones.
A nomofobia não é reconhecida como um transtorno, mas há propostas para que seja incluída no rol dos distúrbios relacionados ao uso de tecnologia no DSM-5, o manual dos diagnósticos e estatísticas de transtornos psicológicos.
O vício pelo celular em um cérebro em formação
Especialistas afirmam que o uso do celular leva à liberação de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Porém, essa sensação positiva pode se tornar um problema quando a ativação ocorre com muita frequência, gerando uma dependência emocional. A dificuldade em sair desse ciclo é comparada à enfrentada com vícios com o uso de drogas ou consumo de álcool.
E na infância e na adolescência, o desafio é ainda maior, visto que o cérebro ainda está amadurecendo e os jovens não desenvolveram habilidades cognitivas como controle dos impulsos, autorregulação e pensamento futuro. É preciso muita conversa e supervisão dos pais para conscientizar os filhos quanto ao uso saudável do celular.
Países como Japão, China e Coreia do Sul já tratam a dependência pelo celular como questão de saúde pública. Nos Estados Unidos, a gravidade da situação fez com que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos anunciasse a concessão de US$ 10 milhões para Academia Americana de Pediatria estabelecer em até cinco anos um Centro Nacional de Excelência em Mídias Sociais e Bem-Estar Mental.
A estratégia faz parte de ações do presidente Joe Biden para enfrentar uma alarmante crise nacional de saúde mental. Segundo comunicado de imprensa, a criação do centro visa “desenvolver e disseminar informações, orientações e treinamento sobre o impacto – incluindo riscos e benefícios – que o uso das mídias sociais têm nas crianças e nos jovens, especialmente os riscos para a sua saúde mental.”
“Há benefícios no uso das mídias sociais, mas também há claramente riscos – especialmente quando se trata de saúde mental”, dizem os especialistas.
Em tempo em que o aparelho se torna cada vez mais essencial para a sociedade – seja para nos comunicarmos, pagar contas, ouvir música ou conversar com os amigos – mais que proibir o uso, é preciso ensinar as crianças a conviver com ele de maneira equilibrada.
Abaixo, seguem recomendações para cultivar a moderação sugeridas por Claudia Feitosa-Santana, neurocientista com pós-doutoramento pela Universidade de Chicago. As dicas foram publicadas em artigo do portal Lunetas.
Combine que ninguém da família deverá usar o celular durante as refeições.
Desligue as notificações de seu celular e das crianças.
Juntos, deletem aplicativos viciantes ou inúteis.
Não deixe seus filhos levarem o celular para o quarto na hora de dormir (compre um alarme analógico, se for preciso).
Respeite e seja fiel aos compromissos das crianças, como exercício físico e encontros com amigos, para não ficarem grudadas no celular.
Imponha horários para ligá-lo e desligá-lo para praticar o jejum do celular. Há aplicativos nos próprios aparelhos para controlar o tempo de uso.
“Muito provavelmente seus filhos precisarão da sua ajuda – dependentes podem ter dificuldade de seguir essas regras sozinhos e podem apresentar sintomas de abstinência com a redução do uso”, afirma a neurocientista. Ela orienta os pais a avaliar a necessidade de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, como em qualquer outro vício, e diz que é preciso ensinar os filhos a dominar o celular – e não o contrário. “Enfim, ser digital conscientemente”, conclui.