sexta, 29 de março de 2024
Saúde
21/05/2022 | 10:13

Pesquisa de universidades do RS detecta vírus da gripe bovina pela primeira vez na América do Sul

Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com a Universidade Feevale , publicada no periódico Archives of Virology, demonstra que o vírus da influenza D já está presente entre os bovinos da América do Sul. Anteriormente, o vírus só havia sido identificado em animais da América do Norte, Europa e Ásia.
 
O estudo Cattle influenza D virus in Brazil is divergent from established lineages verificou 10 amostras de ruminantes que manifestaram doenças respiratórias em 2020 e, em uma delas, coletada no Rio Grande do Sul, o vírus foi identificado. Segundo Cláudio Canal, professor da Faculdade de Veterinária da UFRGS que participou da pesquisa, já se suspeitava que o vírus da influenza D circulava entre os bovinos do Brasil.
 
"Já faz um ano, mais ou menos, que a gente estava procurando, até que localizamos um animal que tinha esse vírus", afirma.
 
Para o professor, o resultado da pesquisa aponta para a possibilidade de que o vírus esteja circulando em todo o Brasil. O que não significa, contudo, que esteja causando doenças nem tampouco a gravidade delas nos animais.
 
"Se for fazer um trabalho de sorologia, vou detectar em todo o Brasil. Só não existe porque não se procura", explica.
 
Descoberta entre suínos, gripe é preponderante entre bovinos
 
Ao contrário dos vírus da influenza A e B, que afetam humanos e que já são conhecidos pelos pesquisadores há algum tempo, os vírus da influenza C e D foram descobertos recentemente, há cerca de 10 anos. O estudo pode ser o primeiro passo para investigar infecções por influenza D em bovinos no Brasil e em países vizinhos, nos quais a indústria de carne bovina é economicamente importante.
 
Apesar de ter sido detectado primeiro em suínos nos Estados Unidos, hoje se sabe que o microrganismo infecta principalmente os bovinos. O professor Cláudio participou de um estudo epidemiológico que, a partir de amostras de soro bovino coletadas nos Estados Unidos em 2014 e 2015, verificou que 77,5% dos animais tinham anticorpos contra a doença, o que indica uma infecção prévia.
 
No Brasil, a primeira detecção ocorreu quando um produtor rural procurou o professor David Driemeier, também da Faculdade de Veterinária da UFRGS, para fazer o diagnóstico de bovinos que estavam com problemas respiratórios. Foram coletadas amostras desses animais por swabs nasais e enviadas para laboratório.
 
"Eu fiz um exame PCR dessas amostras, e em uma delas nós detectamos o vírus da influenza D", afirma Cláudio.
 
Os pesquisadores, então, fizeram uma parceria com a Universidade Feevale para caracterizar o genoma do vírus, utilizando um equipamento de sequenciamento de alto desempenho de última geração. Esse processo é utilizado para detectar seres vivos que ainda não são conhecidos pela ciência.
 
"Ele sequencia todo o ácido nucleico, DNA e RNA, que tem naquela amostra. Assim, tu consegues ver o que tem ali de diferente do normal de se encontrar em um ser humano ou animal. No caso da influenza D, nós já sabíamos que [o vírus] estava naquela amostra, mas nós queríamos ter todo o genoma dele para conhecê-lo por inteiro, não só um pedacinho que a gente tinha detectado pelo PCR", diz o professor Cláudio.
 
Presença entre humanos
 
Anticorpos do vírus da influenza D já foram identificados em humanos, principalmente em criadores de bovinos, o que demonstra que o microrganismo circula na população humana. Ainda não é claro, porém, se a influenza D é relevante ao ponto de gerar sinais clínicos em pessoas.
 
"Aparentemente é branda, mas tem pouco tempo [de estudo]", completa o professor.
Além disso, os vírus causam diversas doenças que implicam prejuízos à saúde e prejuízos econômicos em animais de produção. De acordo com um relatório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 2020, o rebanho bovino brasileiro foi o maior do mundo, com 217 milhões de cabeças, representando 14,3% do rebanho mundial.
 
"Porque é um vírus, causa a doença? Não, a doença é exceção. A maior parte das infecções virais não causa doença. Às vezes nem tem sintomas", acrescenta.
 
Contudo, o professor alerta que, quanto mais animais são criados em grandes concentrações, maior é a facilidade com que os vírus circulam entre eles — o que pode causar doenças que impactam a produção pecuária do país.
 
Segundo Cláudio, os próximos passos incluem saber se o vírus da influenza D está causando doenças nos bovinos e em que gravidade. Além disso, também é preciso verificar se será necessária a criação de uma vacina para impedir que os animais adoeçam.
 
"[O estudo] É o ponto inicial. É uma doença muito recente. A gente sabe que tem. Agora a gente vai partir para ver quanto tem e qual a participação do vírus nas doenças respiratórias dos bovinos. Tem várias doenças respiratórias que podem levar à morte do bovino assim como no humano. Para algumas, já tem vacinas. Os vírus ou bactérias estão envolvidos e, muitas vezes, estão juntos. Não é um único causador, tem mais de um", aponta.
 

Foto: Fazenda com gado em Santo Ângelo — Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini



Fonte: Globo RS

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