Por Bernardo Almeida, médico infectologista e chief medical officer da Hilab
A pandemia da covid-19, sem dúvida alguma, desestabilizou a população mundial. Uma doença que contamina a qualquer pessoa e em qualquer lugar se tornou o maior pesadelo, trazendo para a realidade todos aqueles filmes apocalípticos das ficções científicas. Com uma força tarefa, em conjunto com grandes cientistas e laboratórios do mundo, logo as vacinas começaram a ser desenvolvidas e produzidas para dar início a imunização da população. Finalmente, em janeiro a vacinação teve início no Brasil com profissionais da saúde e idosos. Apesar da esperança para finalmente dar fim ao coronavírus, grande parte da população começou a esquecer da gravidade da doença e a relaxar nas medidas de prevenção.
O objetivo final do enfrentamento à pandemia é reduzir a transmissibilidade do vírus e sua gravidade, mas ainda não está claro o quanto as vacinas afetarão essas variáveis. Considerando o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19 no Brasil, somente 37% da população receberá a vacina. Extrapolando a eficácia da redução de doença sintomática em 50%, no caso do Coronavac, e 62% no caso da AstraZeneca/Oxford, na redução da transmissibilidade, estima-se que o impacto dessa estratégia seja em torno de 20% apenas, que é insuficiente para controlar o vírus.
Como forma de diminuir a propagação do vírus, a testagem é uma estratégia comprovadamente eficaz se focada em escala e rapidez, pois oportuniza a identificação do transmissor e o isolamento oportuno. Mas infelizmente não é o que tem sido feito no Brasil de forma efetiva.
Além disso, é importante testar toda população para minimizar a subnotificação, entender a prevalência da doença em cada região para que as decisões individuais e em saúde pública sejam mais oportunas e assertivas. Afinal, a maior parte das pessoas ainda não está imunizada e, com as tentativas de retorno ao "velho normal", aumenta-se as interações interpessoais e consequentemente a transmissibilidade.
Ou seja, mesmo com a vacina, é mais do que necessário continuar se cuidando. Precisamos reduzir a transmissibilidade do vírus em 80% e essa meta não será atingida somente com a vacinação, mas sim se mantivermos e otimizarmos outras ações. Exemplo disso é a testagem em massa com o antígeno, exame que detecta o vírus durante a fase de transmissão, ajudando a isolar apenas no período correto e auxiliando na retomada na economia, principalmente para setores que estão completamente parados sentindo os impactos da pandemia - caso de hotelaria, entretenimento e educação.
É preciso conscientizar que ainda temos um vírus mortal, que ainda há pessoas seriamente doentes e precisando de cuidados médicos e que os hospitais não estão dando conta, o que exige cuidados redobrados. Por mais que a vacina esteja sendo nossa esperança, a covid-19 está longe de ser eliminada ou sequer controlada!
*Bernardo Almeida é médico infectologista e Chief Medical Officer da Hilab, health tech que desenvolveu o Hilab, primeiro laboratório descentralizado usando testes laboratoriais remotos. É médico especialista em infectologia pela Universidade Federal do Paraná, com residência médica em clínica médica e medicina interna no Hospital de Clínicas - UFPR e em infectologia no Hospital de Clínicas - UFPR, mestrando da UFPR em medicina interna, área de doenças Infecciosas - Epidemiologia das síndromes respiratórias agudas graves em adultos. Tem experiência na área de medicina, com ênfase em clínica médica e doenças infecciosas e parasitárias, e participa de grupo de pesquisa na área de vírus respiratórios.