Desde 1969, quando mudaram para o bairro Cordeiros, dona Délfica Mianes dos Santos, 81 anos, e o marido, João Guilherme dos Santos, 88, mantêm uma horta caseira nos fundos da casinha de madeira azul. É dali que vêm os temperos para preparar o almoço, como a cebolinha e a salsinha. Fora os condimentos, o casal mantém uma plantação de aipim, beterraba, cebola, couve, repolho e outros legumes e frutas. Tudo cultivado sem agrotóxicos.
Assim, boa parte das refeições vem do quintal de casa. O tomate cereja, ainda verde, será usado nas saladas para acompanhar o almoço. Neste ano, na cuidadosa horta do casal, só a plantação de alho que não vingou.
— Nós usamos a mesma semente desde sempre. Acho que tá na hora de trocar — comenta dona Délfica.
O pé de taiá, com folhas verdes e grandes, tem um dos frutos mais esperados por seu João. Apontando para outras árvores, o aposentado lembra todos os pés que ainda cultiva no quintal: tem graviola, acerola, ameixa, pêra, manga, caqui, jabuticaba, carambola e até o famoso araçá.
Na pequena casa de dona Délfica e seu João, são mais de 40 anos cultivando os próprios alimentos. Mas a difusão das hortas caseiras começou há poucos anos. A busca por alimentos totalmente naturais, sem adição de agrotóxicos, virou febre em grandes cidades recentemente e causou um boom nesse mercado.
A partir da novidade surgiram as feiras orgânicas e movimentos especializados na causa, como é o caso do Slow Food. A filosofia do movimento defende o prazer da alimentação, com produtos artesanais e produzidos com respeito ao meio ambiente.
Itajaí não tem cultura de produção orgânica
Itajaí, no entanto, segue na contramão dessa tendência. Feiras orgânicas já existem na cidade, mas a tradição de cultivar produtos sem o uso de agrotóxico ainda é rara. Segundo o secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Artur de Jesus, não se sabe sequer se existem produtores rurais com cultivo orgânico em Itajaí.
— Não é uma prática dos nossos produtores rurais. As feiras orgânicas que acontecem na cidade são organizadas por um pessoal de fora — diz.
A secretaria reconhece a importância do alimento orgânico e por isso está investindo no projeto Transformação para Educação em parceria com a Univali. Serão aulas exclusivamente para mulheres agricultoras, com 300 vagas disponíveis. Fora o incentivo à produção natural, o projeto promove a educação popular em saúde, meio ambiente e a autonomia da mulher agrícola.
Produtos químicos são inimigos na produção orgânica
Na agricultura orgânica, as plantações não recebem nenhum tipo de agrotóxicos. No entanto, o cultivo é feito com biofertilizantes naturais. Segundo a engenheira agrônoma e paisagista, Dalva Sofia Schuch, o biofertilizante é utilizado para equilibrar os nutrientes nas plantas.
A agrônoma defende que o uso de produtos químicos em plantações deve ser abandonado. O uso de agrotóxicos pode trazer riscos à saúde humana, devido as suas composições químicas. Na teoria da Trofobiose, a engenheira agrônoma explica que o desequilíbrio causado pela agricultura industrial química (com uso de agrotóxicos) vem do acúmulo dos elementos de nitrogênio, fósforo e potássio.
— A partir desse caso, o técnico indica o uso do agrotóxico, mas o uso da química quebra outras cadeias complexas e atrai mais insetos [pragas] e mais veneno. Dessa forma, os cultivos levam inúmeras aplicações do veneno — conta.
De acordo com Dalva, cada brasileiro consome em média sete litros de agrotóxico por ano, que se acumulam em células gordurosas, como no fígado, ocasionando em inúmeras doenças:
— São dados oficiais e essas doenças são reconhecidas pela medicina.
Preço alto dos orgânicos é queixa frequente de consumidores
A explosão dos produtos orgânicos virou um negócio de lucro. Em bairros menores, as feiras orgânicas se instalam em dias de semana e sempre tem gente na fila. Mesmo assim, a queixa do consumidor é a diferença no preço do produto orgânico. Não existe uma justificativa concreta para explicar a alta no preço dos orgânicos, mas Dalva acredita que a novidade faz com que muitos comerciantes se aproveitem da situação:
— Sugiro que as pessoas comprem diretamente com um produtor rural ou em feiras de economia solidária. Quando o produtor tiver certeza da venda, os preços serão mais justos.
Feiras orgânicas em Itajaí
Feira agroecológica do Centro Público de Economia Solidária de Itajaí
Quando: quartas-feiras
Onde: avenida Ministro Victor Konder, no Centro de Itajaí (na Praça Arno Bauer)
Horário: 7h às 13h
*A Feira Agroecológica apresenta o selo Ecovida, certificação de produtos orgânicos.
Feira orgânica São Vicente
Quando: quartas-feiras
Onde: rua Estefano José Vanolli, número 1029, no bairro São Vicente
Horário: 7h às 13h
*A produção e comercialização da feira orgânica do bairro São Vicente é feita pelas entidades “Natureza é Vida”, do município de Presidente Getúlio, e “Campina Verde”, de Correia Pinto. Os produtos são assegurados pela Univali como orgânicos.