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Geral
05/04/2012 | 14:17

EL GRECO – O ARQUÉTIPO DO GÊNIO - por Luiz Henrique da Silveira

Toledo é uma cidade inesquecível. Fortaleza dos mouros, que ocuparam a Península Ibérica por quinhentos anos, guarda a beleza da arquitetura e da arte daquele povo que era mais avançado nas ciências do que os europeus.

O damasquinado é uma arte única de Toledo, nas peças metálicas cheias de filigranas a ouro, trazida, certamente, de Damasco, à época, centro fervilhante de cultura.

Toledo é, sem dúvida, referência da arte do pintor, escultor e arquiteto El Greco. Nascido em Creta, na Grécia, mudou-se para Roma, em 1570, e, a partir de 1577, trabalhou em Toledo, na Espanha, até sua morte, em 1614, num dia 7 de abril, há 398 anos.

El Greco  é considerado precursor do expressionismo e do cubismo, graças às suas figuras tortuosamente alongadas e ao uso frequente de pigmentação fantástica ou mesmo fantasmagórica.

Em Veneza, El Greco trabalhou no ateliê do pintor Ticiano e conheceu pintores como Tintoretto, recebendo forte influência do Renascimento veneziano do período. Suas figuras ágeis e alongadas lembram Tintoretto e seu vigor cromático o liga a Ticiano. Ele gostava de pintar em quartos pouco iluminados, porque acreditava que a luz do dia perturbava a sua "luz interior".

O artista maior de Toledo granjeou inimizades em Roma (o que o levou a migrar para a Espanha), ao  criticar o “juízo Final”, obra máxima de Michelangelo, na Capela Sistina. Mas, por contraditório que seja,  o gênio florentino acabou tendo enorme influência  de Michelangelo nas suas obras "Alegoria da Liga Sagrada” e “A Piedade". Que elogio poderia ser maior que um desafeto não conseguir livrar-se da sua aura magnética? Ele sucumbiu a forças internas, que impactaram o seu subconsciente, fazendo-o, de forma subliminar, admitir que  Michelangelo, assim como Rafaelo Di Sanzio, eram exemplos a serem seguidos.

Exposto na Igreja de Santo Tomé, em Toledo, seu trabalho mais conhecido é “O Enterro do Conde de Orgaz”, uma tela enorme (de 480 por 360 centímetros), dividida em duas zonas: a superior, divina;  e a inferior, terrena.

Nessa tela, vê-se, claramente, o primado da imaginação e da intuição sobre o caráter subjetivo de criação, descartando os critérios clássicos de medidas e proporção, acreditando que a graça é o supremo objetivo da arte e, diante de problemas complexos, apostando na obviedade do simples. Mais do que descrever, ele dramatizava.

Em seus últimos trabalhos transparece um amálgama entre forma e espaço que ressurgiria três séculos depois nas obras de Cézanne e Picasso.

No verão de 1906, durante uma estada em Andorra, a obra de Picasso entrava em uma nova fase, o protocubismo. O célebre retrato de Gertrude Stein já revela um tratamento do rosto em forma de máscara.

Em 1908, Julius Meier-Graefe, um estudioso do impressionismo francês, descreve o impacto de El Greco nos movimentos artísticos do seu tempo: “Ele descobriu um reino de novas possibilidades. Nem mesmo ele estava apto a esgotá-las. Todas as gerações que o seguiram viveram nesse reino”.

El Greco era o arquetípico gênio, que faz o que acha ser certo e que age com completa indiferença para com o efeito que essa expressão poderá ter no público.


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