quinta, 28 de março de 2024
Economia
22/11/2010 | 00:00

Aquapescabrasil entra para o calendário internacional de feiras do setor

 

 

A 1ª Feira Internacional de Pesca e Aquicultura do Brasil, realizada em Itajaí/SC, nos dias 18, 19 e 20 de novembro, apresentou excelentes resultados. Além de fechar acordos com outros países e estimular o interesse dos chineses em investir no Brasil, o evento tornou-se referência, como as já existentes Aquanor, na Noruega, e Aquasul, no Chile

 

A atual situação do segmento no Brasil, as perspectivas e o potencial do cultivo aquícola e o futuro do setor foram temas de discussão nos três dias de Feira. O pavilhão de 3 mil m2 do Centreventos de Itajaí serviu de palco para empresas nacionais e internacionais exporem o que há de mais moderno na área. Fornecedores, transportadores, universidades, terminais de estocagem, bancos, prestadores de serviços, governos e cooperativas reunidos em um único local e com o mesmo objetivo: alavancar o desenvolvimento da pesca e aquicultura brasileira.

 

“A feira será um marco na história do setor. Por um lado, a realização do evento é resultado da dimensão que o segmento vem ganhando, se não, não teríamos tido esse número expressivo de expositores, 60 participantes. Ao mesmo tempo, a Aquapescabrasil serviu para dar um novo impulso ao segmento, trazer motivação, conhecimento e novas alternativas em tecnologia”, afirmou o Ministro da Pesca e Aquicultura, Altemir Gregolin, que esteve presente na abertura oficial do evento. Durante todo o dia, o ministro visitou os estandes, conversou com os empresários e participou de um Painel Interministerial com o Vice-Ministro da Pesca e Assuntos Costeiros da Noruega, Vidar Ulriksen. Já no primeiro dia a Feira apresentou resultados positivos, com o fechamento de um acordo entre o Brasil e a Noruega. O Instituto Norueguês de Alimentação, Pesca e Aquicultura, o Nofima, e a Embrapa Pesca e Aquicultura fecharam uma parceria para a produção em cativeiro do peixe tambaqui, terceira principal espécie cultivada aqui no País.

 

No Painel, Ulriksen comentou as políticas norueguesas de combate à pesca não sustentável. Especificamente sobre a aquicultura garantiu ser um setor jovem também na Noruega, que vem se desenvolvendo a cerca de 30 ou 40 anos. Porém, hoje já é responsável pela produção de 1 milhão de toneladas de pescado por ano, representado 90% pelo salmão. Outro fato curioso, que demonstra a parceria entre os dois países é que o Brasil importa 250 milhões de dólares por ano em peixes da Noruega, principalmente o bacalhau. Três institutos de pesquisa do país nórdico estiveram presentes na feira.

 

E a participação da China também merece destaque nessa 1ª Feira Internacional de Pesca e Aquicultura. Não só pelo fato de o País ser o maior produtor de pescado do mundo e ter participado da feira brasileira, mas principalmente pelo interesse que demonstraram em investir no Brasil. Uma comitiva de 12 empresários chineneses esteve presente. Tang Chuan Qin, da empresa Shandong Homey Group, que realizou uma palestra na Aquapescabrasil, destacou a transferência de tecnologias. “Não há mais espaço para pesca na China. Por isso, empresários do país têm procurado outras regiões para investir”, afirma Qin. A China tem uma produção de 34 milhões de toneladas de pescado por ano. O Brasil é o 13º no ranking, com 1,240 milhão, porém, estima-se que a costa litorânea brasileira de 8.500 km de extensão e os quatro milhões de quilômetros quadrados de zona econômica exclusiva representem um potencial para produzir 20 milhões de toneladas/ano.

 

Comercialização da pesca no Brasil

 

Os desafios para uma inserção mais eficaz do setor no mercado brasileiro também foi tema de discussão. Uma mesa redonda foi realizada com a participação de Abraão Oliveira, do Ministério da Pesca e Aquicultura, Carlos Ely, diretor de relações institucionais da rede Walmart, Márcio Milan, vice-presidente da Agência Brasileira de Supermercados, e Dario Luis Vitali, representante do Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca.

 

Entre os assuntos levantados esteve a média brasileira de consumo de pescados, que ainda é muito baixa em comparação com outros países – 9kg per capita por ano, quando o recomendado pela  FAO é 12Kg. “Não é que no Brasil se coma pouco pescado por habitante. O que acontece é que pouco mais de 10% da população consome pescado regularmente”, afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Pescadores, Abraão Lincoln.

 

Lincoln falou sobre a necessidade de foco nos consumidores que não estão habituados ao consumo. O vice-presidente da Abras, Agência Brasileira de Supermercados, Márcio Milan, falou sobre as previsões do setor. “O consumidor está mais consciente, e está migrando para hábitos de consumo mais saudáveis, entre eles o consumo de pescados”, declarou. O diretor de relações institucionais da rede Walmart, Carlos Ely, apontou a sustentabilidade como um dos fatores dominantes para a inserção no mercado a partir de agora. “Existe o risco de esgotamento dos recursos. Os peixes são finitos. Por isso, o Walmart se comprometeu a estimular o consumo de produtos sustentáveis da Amazônia”, disse.

 

O presidente do Sindipi, Dario Vitali, representando o Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca, falou dos grandes desafios para o setor, como instaurar o hábito naqueles que não consomem o produto e aumentar a qualidade oferecida de pescado em todos os âmbitos. “Se o pescado sugere qualidade de vida, não podemos admitir que o produto chegue ao consumidor sem um padrão de excelência”, analisou Vitali.

 

Os desafios do setor

 

As perspectivas e o potencial do cultivo aquícola no Brasil também foram temas de uma mesa-redonda. Na ocasião, participaram o Secretário Nacional de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura do MPA, Felipe Matias, o consultor internacional em aquicultura e pesca, o chileno Carlos Wurmann, o representante regional interino da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), Alejandro Flores Nava, e o diretor do Departamento de Aquicultura em Águas da União do MPA, Marcelo Sampaio.

 

Os palestrantes apresentaram dados sobre as perspectivas do país em relação à pesca extrativista, aquicultura, políticas governamentais, pesquisa e tecnologia.  “O Brasil é visto como um país que tem um potencial enorme, mas que precisa de muitas ações para se desenvolver e alçar vôos”, segundo Wurmann. Ele alega que o país passou por um processo interessante e que a comunidade pesqueira tem uma avaliação positiva. “Romperam somente as primeiras barreiras no sentido de tornar a indústria pesqueira competitiva e de qualidade”, afirma.

 

O Secretário Felipe Matias confirma o crescimento nos últimos anos. “De 2002 a 2009 houve um aumento de mais de 60% da produção em todas as espécies”.   Segundo ele, o país segue a tendência mundial de estimular a produção de peixes pelo cultivo. O Brasil cresceu cerca de 80% da chamada aquicultura continental.

 

Produção Nacional

 

Atualmente os maiores produtores são os Estados de Santa Catarina, que detém 90% da maricultura do país, e o Ceará, com a produção de Tilápias e Camarão. A surpresa vem do Mato Grosso, tradicional da pecuária bovina, que vem se destacando na produção aquícola.

 

Matias diz que o bom do Brasil é a sua diversidade, que facilita o aumento da produção. “Atualmente temos seis Parques Aquícolas em funcionamento e 35 estão em estudos de implementação”. A promessa para Santa Catarina é de que os Parques Aquícolas de Itá e Machadinho sejam liberados até o final do ano, ainda neste governo.

 

Para o Ministro da Pesca e Aquicultura, Altemir Gregolin, a Aquapescabrasil foi um grande passo para o desenvolvimento do setor, mas ainda há muito que fazer. “Há pouco tempo não existiam políticas para o setor. Com a criação do MPA foram firmadas bases para então obter uma política de desenvolvimento. A partir disso, surgiu uma nova legislação e um conjunto de ações para o fomento da infraestrutura. O próximo passo é ampliar os investimentos em créditos, na formação profissional e rever a questão da tributação de toda a cadeia produtiva. É necessário garantir um ordenamento pesqueiro e promover o desenvolvimento de forma sustentável, evitando problemas futuros, como a pesca desenfreada e a falta de segurança alimentar. Com a Aquapescabrasil entrando para o calendário internacional de feiras do setor, tenho certeza de que estamos no caminho certo”, finaliza Gregolin.


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