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Geral
31/07/2015 | 10:24

Referência regional, Hospital Marieta estuda mecanismos para dar conta da demanda sem ficar no vermelho

A recente mudança na direção significa uma nova etapa para o Hospital Marieta Konder Bornhausen em Itajaí. Apesar de baterem na tecla de que continuarão o trabalho da gestão anterior, as novas autoridades da unidade de saúde chegaram implantando mudanças. A mais expoente delas é ter aberto as portas para a imprensa de forma a partilhar com a comunidade o dia a dia do hospital, numa demonstração de cordialidade e transparência.

 

Não que essas portas estivessem fechadas anteriormente, mas conseguir informações de dentro da unidade nunca foi tarefa das mais fáceis e por muitas vezes a população ficou sem respostas claras. Nivaldo Cunha, que ficou com a direção administrativa do hospital, respondeu alguns questionamentos do Jornal dos Bairros. De forma ponderada e por vezes evasiva, falou sobre a imagem da instituição hoje e sobre a saúde financeira, prejudicada, como em todo o país, pela tabela SUS. Confira: 

 

Jornal dos Bairros - Quando o senhor assumiu a direção administrativa do Marieta? O que mudou nessa nova estrutura organizacional?

Nivaldo Cunha - Irmã Mércia Lemos, que é a diretora geral do hospital, e eu chegamos em maio de 2015. Nossa missão é dar prosseguimento aos trabalhos de melhoria contínua iniciados pelas gestões anteriores. No Brasil apenas 4% dos hospitais possuem algum certificado de qualidade e no Estado de Santa Catarina apenas nove hospitais são certificados. Um dos objetivos traçados é alcançar esta acreditação.

 

Em janeiro deste ano o nome do hospital apareceu em denúncias de fraudes médicas. Médicos estavam fazendo cirurgias desnecessárias e usando próteses vencidas em pacientes para lucrar com isso. Apesar de a culpabilidade não ser diretamente da instituição, não havia como fiscalizar e prevenir esse tipo de conduta?

Nivaldo Cunha - O hospital não participou de qualquer fraude. Com a apresentação da denúncia, foram tomadas medidas e alterados processos para garantir a segurança de todos os procedimentos e pacientes. Não foram detectadas cirurgias desnecessárias ou sem indicação. Todos estes processos estão sendo acompanhados pelos órgãos de fiscalização, dentre as quais a vigilância sanitária e o Ministério Público.

 

Isso, é claro, manchou a imagem do hospital. Essas mudanças de administração foram necessárias a partir desse episódio?

Nivaldo Cunha - Em janeiro do próximo ano o hospital completa 60 anos de bons serviços prestados à comunidade itajaiense e de toda a região. Sua imagem é de uma unidade hospitalar de respeito e de importância para a região. Nossa entidade trabalha de forma integrada e mudanças desta natureza são sempre focadas na continuidade do crescimento e melhoria da unidade.

 

Hoje uma das queixas dos usuários do Marieta é referente a demora no atendimento no pronto-socorro. Sabemos que parte disso é culpa da própria população que não procura as unidades básicas. Há um cálculo de quantos atendimentos prestados aqui poderiam ocorrer em outras unidades? Já se pensou em uma campanha para reduzir esses números?

Nivaldo Cunha – É importante entender que o Hospital Marieta faz parte de um sistema de saúde, compreendido em unidades básicas, unidades de pronto-atendimento, pronto-socorro, cirurgias eletivas etc. Este sistema, para ter eficiência plena, requer um trabalho bastante aproximado entre todas as unidades e seus gestores, portanto estar alinhado com a Secretaria de Estado e a Secretaria Municipal, como também a outros agentes da saúde é de fundamental importância. Estamos muito atentos a isso e temos os órgãos de governo muito interessados em melhorar estes processos. O conceito é dar à população um atendimento mais eficiente e humanizado, envolvendo todas as unidades prestadoras deste serviço na região da Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí-Açu (Amfri).

 

Qual o número de atendimentos do hospital hoje considerando pacientes do SUS, tanto no pronto-socorro quanto na internação? Quanto desse número é maior do que a capacidade de atendimento?

Nivaldo Cunha - No primeiro semestre deste ano foram mais de 94, 3 mil atendimentos em todo o complexo hospitalar Marieta Konder Bornhausen. Veja bem, quando falamos atendimento, não estamos falando de pacientes, porque uma mesma pessoa pode dar entrada em diferentes atendimentos. Hoje estamos com um percentual de ocupação acima de 90% dos leitos hospitalares. Alguns serviços específicos vêm sendo procurados por pacientes da região da Amfri, extrapolando em alguns momentos a capacidade de atendimento. No caso do pronto-socorro trabalhamos com o protocolo de Manchester, uma metodologia aplicada a serviços de urgência e emergência de grandes hospitais do mundo inteiro desde 1997. Hoje a estrutura da rede de saúde dos municípios poderia suprir parte dos atendimentos realizados em nosso pronto-socorro. Já estamos ajustando estas questões com o município.

 

Quantos médicos atendem hoje no Marieta e quantas especialidades?

Nivaldo Cunha - São 258 profissionais médicos no corpo clínico e 52 residentes médicos.

 

Quais as áreas da medicina ou tipo de atendimento que o Hospital Marieta é referência em Santa Catarina e no Brasil?

Nivaldo Cunha - São 35 especialidades médicas de grande relevância. A vocação do Hospital Marieta Konder Bornhausen é para atendimentos de alta complexidade. O hospital possui instalações e equipamentos de alta precisão, exames de laboratório, exames de imagem de última geração e Unidade de Tratamento Intensivo, com equipe multiprofissional para atendimento completo e apta a prestar a retaguarda para os atendimentos realizados. Eu seria injusto destacando apenas uma especialidade como referência para o Hospital Marieta, portanto mencionarei algumas equipes que vêm apresentando importantes trabalhos em nível nacional e internacional: cardiologia, clínica médica, cirurgia cardiovascular, cirurgia geral, cirurgia neurológica, neurologia, urologia, oftalmologia, proctologia, oncologia, ginecologia e obstetrícia, Unidade de Terapia Intensiva, hemodinâmica, ortopedia, eletrofisiologia, dentre outras especialidades que vêm prestando um excelente trabalho.

 

Além do SUS, de onde vem a receita que o hospital aplica atualmente? Há como fechar os meses sem ficar no vermelho?

Nivaldo Cunha - Além do SUS, que responde por 80% da receita, tem ainda o atendimento particular e os convênios com os planos de saúde. Todos os hospitais do Brasil que atendem ao SUS passam por dificuldades em face das baixas tabelas. Estamos vivendo um período de grandes dificuldades em nível nacional. Somente em Santa Catarina foram fechados 12 hospitais nos últimos anos demonstrando claramente que a gestão financeira destes hospitais é bastante difícil em função da escassez de recursos. No Hospital Marieta estamos buscando a eficiência operacional, ajustando nossos custos e trabalhando em conjunto com os poderes públicos, municipal, Estadual e federal para que o hospital não feche suas contas no vermelho.

 

Como os municípios da Amfri, que também usufruem do hospital, contribuem financeiramente?

Nivaldo Cunha - O nosso contrato é com a prefeitura de Itajaí. Não temos contratos com outras prefeituras da Amfri, embora recebamos uma grande demanda de pacientes destas regiões.

 

Qual a principal despesa do hospital hoje, pessoal, equipamentos? Existe algum setor no Marieta que demanda um volume maior de investimentos?

Nivaldo Cunha - Como temos uma vocação natural na prestação de serviços de alta complexidade, nossas despesas são diluídas em diversos centros de custos, com uma concentração maior em equipamentos com alta tecnologia (aquisição e manutenção), corpo clínico, colaboradores (hoje cerca de 1,2 mil), materiais e medicamentos.

 

Como está o andamento da obra do novo hospital? Está dentro do cronograma, vai atrasar? E já estão garantidos os recursos também para equipar a nova unidade ou haverá necessidade de buscar mais recursos públicos?

Nivaldo Cunha - Foram realizados três convênios, sendo dois com o Estado e um com a União. Os convênios com o Estado são: SES/FES 6588/2012 com uma verba de R$ 4.936.643 para primeira etapa das obras (sondagem do terreno, levantamentos topográficos, etc.) e o convenio SES nº2013TR004615 no valor de R$ 41.564.400 para segunda etapa das obras (construção do Complexo Madre Teresa com área de 21.477,27 m² com 15 pavimentos). Com a União firmamos um convênio de aproximadamente R$ 4, 8 bilhões para aquisição de equipamentos. Até o presente momento não firmamos outros convênios para aparelhamento da nova unidade com equipamentos médicos, (ressonância magnética, ultrassom, monitores, etc.), bem como para mobiliários e equipamentos de informática. Os trabalhos de formalização dos convênios estão em andamento junto aos governos estadual e federal para que os recursos necessários ao aparelhamento do Complexo Madre Teresa sejam efetivados, respeitando os trâmites normais. Certamente esta ampliação física e estrutural irá melhorar em muito o atendimento da comunidade de Itajaí e região que há 60 anos é acolhida no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen.

 

Há quem diga que a ampliação já surge defasada em função do grande volume de atendimentos regionais. Não seria o caso de fazer pressão política para que houvesse um novo hospital regional ao invés de investir na ampliação do Marieta?

Nivaldo Cunha - Em todo o Brasil existem dificuldades na gestão da saúde pública por diversos motivos. A relação do Hospital Marieta com o governo de Santa Catarina é muito positiva. Acreditamos que o Hospital Marieta pode sim contribuir com um bom e adequado atendimento à população do Estado, caso recebamos os investimentos necessários para investimento e custeio de suas operações.

 

O hospital estuda passar por um processo de acreditação, que seria uma espécie de Iso, como isso funciona?

Nivaldo Cunha - Como já dissemos, este será um importante passo em direção à continuidade das melhorias de processos e controles internos. O Hospital Marieta Konder Bornhausen é uma organização que atende a uma grande demanda de atendimentos de alta complexidade. Quando acreditado pela ONA participará de um seleto grupo de hospitais com reconhecimento público, sendo seus processos internos e segurança dos pacientes, além da auditoria interna, acompanhados por uma equipe de auditores externos, com visitação regular e certificação dos procedimentos instalados. O método é reconhecido pela ISQua (International Society for Quality in Health Care), associação parceira da OMS, contando com representantes de instituições acadêmicas e organizações de saúde de mais de 100 países. Com esse selo de qualidade, estaremos em melhoria continuada dos processos, dos fluxos internos, da segurança dos pacientes e da gestão. Este processo levará no mínimo três anos e dependerá de investimentos financeiros em infraestrutura e assistência hospitalar.

 

Qual a participação e importância da Associação Madre Teresa, instituição formada por pessoas da comunidade, no dia a dia do Hospital Marieta?

Nivaldo Cunha - A associação congrega a classe empresarial da cidade que busca o melhor para o principal hospital da região. Com a ajuda do grupo de voluntários conseguimos unir forças para focar em grandes projetos, como este da acreditação, que trará melhorias em todos os aspectos e benefícios para toda a população. 


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