sexta, 19 de abril de 2024
02/03/2015 | 15:25

A (in)sustentável luta dos caminhoneiros

São jornadas de trabalho extenuantes. Doze horas (ou mais) em estradas onde enfrentam todo tipo de perigo. Ora, buracos; ora assaltos; ora ultrapassagens imprudentes por motoristas impacientes; tudo isso constitui a rotina dos caminhoneiros.

O abastecimento no Brasil segue um sistema anti logístico. Na Europa, como comentou comigo a Embaixadora da Áustria, Marianne Feldmann, o abastecimento é realizado por transporte feito num raio de 150 quilômetros. No Brasil, busca-se o grão que alimenta os animais no Centro-Oeste e manda-se o produto industrializado de frango e o suíno para o Norte e Nordeste.

Na Europa, o transporte de produtos a grandes distâncias (normalmente, os não perecíveis) é feito de trem, navios ou chatas. Aqui, revogamos os trens, as hidrovias e a navegação costeira. Assim, a geladeira e o freezer produzidos pela Cônsul seguem, por caminhão, de Joinville até para o interior do Acre. 

Quem vai a qualquer capital europeia, vê comboios de dezenas de chatas chegando, carregadas, de países distantes como a Rússia. De rios distantes, como o Volga, as mercadorias chegam ao Douro, abastecendo cidades espanholas e portuguesas, depois de ir deixando-as em vários outros países do caminho.

A crise dos caminhoneiros expôs, mais uma vez, a fragilidade de nossas políticas de infraestrutura, frete e abastecimento.

Ao recente “boom” de carga de grãos, que entupiu nossas estradas e enfartou o Porto de Santos, seguiu-se um “boom” de financiamentos subsidiados para compra de caminhões. Hoje, há mais caminhões do que cargas. Logo, o preço do frete desabou, enquanto o do óleo diesel disparou.

Vendo os seus custos fixos chegarem 90% (ou mais) do seu faturamento, o que não lhes dá o dinheiro suficiente para o sustento da família, os caminhoneiros foram à medida extrema, desesperada, de bloquear as rodovias, o que vem provocando o desabastecimento do País.

No caso de Santa Catarina, as consequências são as mais graves, porque fragiliza a produção de leite, frango e suíno, com prejuízos, sobretudo para os pequenos produtores.

Isso fez sentarem Governo, empresários e trabalhadores à mesa, o que resultou em alguns avanços, como a sanção sem vetos, pela Presidente da República, da Lei dos Caminhoneiros; o compromisso de não aumentar o preço do óleo diesel nos próximos seis meses; e o cumprimento da tabela mínima do frete.

Tais medidas não foram entendidas como suficientes pelo conjunto dos caminhoneiros.  

Por isso, discursando no Senado, sugeri ao Governo que crie um comitê de crise, sob a coordenação de um Ministro de Estado, que, a curtíssimo prazo, ponha fim aos bloqueios; em médio prazo crie uma política tarifária, que assegure a rentabilidade do transporte rodoviário; e a longo (mas não muito) resulte em investimentos nas infraestruturas rodoviária, ferroviária, hidroviária e marítima.

Com pouquíssimos trens e chatas, e um quase inexistente transporte de cabotagem pelos 7.200 quilômetros de nossa costa litorânea, o abastecimento do povo brasileiro depende da resistência, eficiência, persistência e paciência dos nossos caminhoneiros.

É preciso reconhecê-los, respeitá-los e priorizá-los. E tornar sustentável a sua luta!


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