sexta, 29 de março de 2024
16/12/2014 | 09:41

Mantenhamos o otimismo

Minha avó paterna chamava-se Lydia Ethelvina Firmo de Oliveira Balthazar da Silveira. Vovó Lydia era uma mulher extraordinária. Enérgica, severa, elegante, pontificava na nossa família como um ícone. Tinha pele enrugada e os cabelos brancos amarrados em forma de coque.

Lá dos Açores, de onde vieram os Firmo de Oliveira, ela trouxe uma sabedoria que pertencia aos navegadores gregos, fenícios, croatas e mouros. Quando alguma notícia a aborrecia, ela dava com os ombros e dizia: - Pior é se me doessem os dentes!

“Se nos doessem os dentes”, não estaríamos tão desanimados e desesperançados com o nosso País. Afinal de contas, não temos guerra, como aquela que opôs os sérvios aos croatas, e destruiu Seraievo: nenhum vulcão lançou lavas destruidoras sobre o nosso território: nenhum terremoto fez ruir nossas cidades; nenhum tsunami arrasou o nosso litoral.

Tivemos uma seca prolongada, é verdade, mas nenhum brasileiro passou noites na escuridão, nem morreu de sede.

Os fatos que a Justiça está apurando na Petrobrás revelam numa conjuntura  que parece ter revogado a moral, a ética, o compromisso, o comprometimento, a idoneidade, o amor à pátria.

Mas, assistindo a dezenas de poderosos sendo levados à cadeia, não estaríamos vendo um Brasil passado a limpo? Não teriam esses fatos  grande efeito didático, a demonstrar que passou o tempo do império da impunidade?  Não teriam o poder de criar um novo tempo de plena responsabilidade e domínio da ordem e da lei?

É difícil pensar assim diante da gravidade dos fatos. Mas, sem dúvida, o País avançará na elaboração de leis que proíbam o financiamento privado das campanhas eleitorais! As chagas abertas com o escândalo da Petrobrás serão cicatrizadas pela instituição da propaganda eleitoral ao vivo, o que reduzirá fantasticamente o custo das campanhas políticas. Terão que acabar os partidos de aluguel e as eleições a cada dois anos. Terá que vir a substituição do voto em pessoas pelo voto nos Partidos, que, em todos os países desenvolvidos, é a essência da democracia.

Eu não tenho dúvida de que o povo brasileiro vai exigir isso. A presidente, para ter paz e governabilidade, terá que fazer isso! O Congresso Nacional, para cobrir-se de legitimidade e consideração popular, terá que mudar isso!

Estamos no meio de uma tempestade comportamental, vendo servidores da nossa maior empresa pública e homens “públicos” fazerem conluio com mega empresários, para superfaturar obras; bandidos desafiarem os governos, incendiando ônibus, matando soldados e metralhando delegacias; e manifestantes subverterem a democracia, mascarando o rosto para depredar propriedades privadas e bens do Estado.

Atravessamos uma noite negra de desafios à ética e à ordem institucional. Mas, ao invés do pessimismo de Edgar Alan Poe (“e o corvo disse nunca mais”), fico com a  filosofia de Vovó Lydia e a lição poética de Thiago de Mello, o inigualável bardo amazonense: “Faz escuro, mas eu canto pelo alvorecer de um novo dia”.

                Mantenhamos o otimismo!


JORNAL IMPRESSO
29/03/2024
22/03/2024
15/03/2024
08/03/2024

PUBLICIDADE
+ VISUALIZADAS