quinta, 28 de março de 2024
13/10/2014 | 14:55

As lições de Ulysses Guimarães

No último domingo, dia 12 de Outubro, amargamos vinte e dois anos sem a presença maiúscula de Ulysses Guimarães. Nos seus derradeiros dez anos de vida, fui seu amigo e companheiro mais próximo. Quando estávamos em Brasília, quase toda manhã eu passava no seu apartamento para analisarmos as estratégias a serem seguidas nas deliberações  do Congresso Nacional, antes de irmos, juntos, para a Câmara dos Deputados. 

               

Aquele era o tempo em que o PMDB tinha credibilidade nacional. E o Sr. Diretas era a mais legítima referência do MDB velho de guerra, e o grande avalista da nossa credibilidade. Era o tempo em que, como ele mesmo dizia, “o PMDB é capaz de eleger até um poste!”, tangido pela seriedade de um Tancredo Neves, um Teotônio Vilela, um Miguel Arraes, um Nelson Carneiro, um Paulo Brossard, um Pedro Simon, um Jarbas Vasconcelos, um Celso Furtado, um Freitas Nobre, um Franco Montoro, um Fernando Henrique Cardoso,  um Mario Covas, um Euclides Scalco, um  Renato Archer, um Valdir Pires, um Ronaldo Cunha Lima, um Ramez Tebet,  um Henrique Santillo, um Chico Pinto, um Alencar Furtado...

               

Sobrepairando a todos esses grandes líderes, Ulysses era único, insuperável, inexcedível! E tinha um arraigado e inarredável compromisso ético. Costumava repetir um de seus mais conhecidos refrões: “o principal dever do governante é não roubar, nem deixar roubar!”.

               

Se vivo estivesse, ao ter conhecimento dos últimos escândalos, como o escabroso esquema de distribuição de propinas na Petrobrás, certamente faria a nação recordar-se de uma de suas mais célebres frases. Falando em alto e bom som, como era seu costume, ele afirmou: “o poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder. O homem é o grande poluidor, da natureza, do próprio homem, do poder. Se o poder fosse corruptor, seria maldito e proscrito, o que acarretaria a anarquia”.

               

Ulysses estaria exultando pela maneira como a imprensa -- cuja liberdade e autonomia foram reafirmadas na Constituição Cidadã -- está denunciando os desvios, para que nenhuma sujeira seja varrida para debaixo do tapete, como é comum acontecer durante as ditaduras.

               

Ao ver meu Partido citado em alguns desses malfeitos, acorre-me a mesma tristeza com a qual Ulysses fez a sua "oração de despedida", ao ser obrigado a deixar a presidência nacional do PMDB, pelo grupo que se criou em torno do ex-governador Orestes Quércia.

               

Fui testemunha constante da sua dor e frustração, durante aquele triste episódio. Depois de lhe negar apoio no pleito presidencial (quando o partido tinha 22 dos 23 governadores e a maioria no Senado, na Câmara Federal, nas Assembleias, e 75 prefeitos das 100 maiores cidades brasileiras), ainda arrancavam-lhe o comando partidário.

 

Antevendo os rumos que seriam tomados pelo partido, ele encerrou, triste e preocupado, o seu discurso, recomendando: "Meu filho PMDB. Vai em frente!  Caminha rumo ao sol, que e luz, Não para a lua que é noite".

               

Quem for fiel aos conselhos de Ulysses, sabe o caminho que o PMDB deve seguir...


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