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23/09/2014 | 16:45

A revolta escocesa

O povo escocês, no plebiscito do último dia 18 de Setembro, dividiu-se quase ao meio quanto à opção entre continuar pertencendo ao Reino Unido, ou separar-se da Inglaterra para constituir uma nova nação independente.

                Uma semana antes da decisão, as pesquisas indicavam que o voto pela independência da Escócia vencia por 51 a 49%.

                Acompanhei, em Londres, na semana passada,  nos jornais e na TV europeia, o debate que paralisou a Inglaterra e levou o Primeiro Ministro David Cameron a prometer mundos e fundos aos escoceses, caso se mantivessem, como acabaram se mantendo, ligados ao Reino Unido.

                A questão, que levou milhares de escoceses às ruas para clamar por independência não é nova. As causas são as mesmas que levaram a Eslováquia a separar-se da República Checa, e que estão levando os catalães a um outro plebiscito autonomista, no próximo dia 19 de Novembro.

                O que diziam os eslovacos? É o mesmo que dizem milhares de pessoas nas ruas e nas praças  de Edimburgo e Barcelona: os escoceses e os catalães produzem a riqueza e Londres e Madri ficam com a parte do leão.

                É a mesma causa defendida por Bento Gonçalves e Giuseppe Garibaldi, na Revolução Farroupilha. É o mesmo motivo que leva muitos brasileiros do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul a sonharem  com a criação de um País independente.

                Quais eram as razões da luta pela independência?  São vários, como valer-se dos mananciais de petróleo produzido no litoral da Escócia, de cujos resultados econômicos Londres se apodera da maior parte; ou ficar com a justa parte dos impostos gerados pelos trabalhadores e empresários escoceses.

                É tão gritante a concentração do poder político, administrativo e econômico, que os escoceses foram às ruas clamar pela secessão. E era tão iminente a possibilidade de que ela ocorresse que o Chanceler bretão prometeu-lhes uma escancarada autonomia, em troca de sua permanência no Reino Unido.

                Embora associada à motivação étnica e ao jogo geopolítico de Moscou, a separação da Criméia revela, principalmente, a insatisfação da província do Mar Negro com os privilégios políticos e econômicos de que se outorgou o governo de Kiev, sobretudo em concentrar a arrecadação os tributos nos cofres da capital da Ucrânia.

                Os governantes da Inglaterra e da Comunidade Europeia estão aliviados pela vitória do “não” à  emancipação escocesa. Mas têm pela frente o plebiscito dos catalães. Vencendo, virá o dos bascos, que atormentarão igualmente Espanha e França.

                Tem, na Bélgica, uma iminência de fragmentação, comandada pelo povo de Valões, o que pode gerar um fracionamento nos moldes do que ocorreu entre Sérvios, Croatas, Montenegrinos, Eslovenos e Bósnios, na ex-Iugoslávia.

                Vai ficando cada vez mais atual a tese de Manuel Castels, segundo o qual a globalização vem acirrando as diferenças espaciais entre comunidades, para dar ênfase maior à questão local. Castels criou, para caracterizar essa nova realidade, a expressão glocalização, como oposta à globalização.

                Anulando os valores locais, a conglomeração mundial dos governos, dos  mercados, do consumo, das comunicações vêm provocando uma reação das comunidades locais e regionais, na erupção, com toda  força, de seus valores culturais.

                Isso explica a Escócia, a Catalunha, Flandres e o “País” Basco.


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